O Preço do Sonho

Joana acordava antes do sol nascer. A casa estava silenciosa, exceto pelo som leve da respiração de Gabriel, seu filho de cinco anos, que dormia no quarto ao lado. O cheiro de café fresco enchia a cozinha enquanto ela revisava mais uma vez o cronograma de estudos. O concurso público que ela tanto almejava estava a apenas dois meses, e Joana sabia que cada minuto contava.

Mas nem tudo era tão simples. Joana era mãe solo e trabalhava como atendente em uma loja de roupas. Passava o dia em pé, ouvindo clientes, organizando prateleiras, e, à noite, tinha de dividir seu tempo entre ajudar Gabriel com as tarefas da escola e revisar matérias de Direito Administrativo. Muitas vezes, enquanto estudava, Gabriel chamava por ela, querendo brincar ou simplesmente ter sua mãe ao seu lado. E era nesses momentos que o dilema vinha como uma enxurrada: “Vale a pena? Estou sacrificando tempo com meu filho por um futuro que talvez nunca chegue.”

Nas conversas com sua melhor amiga, Ana, ela sempre desabafava. “Eu me sinto culpada, sabe? Eu vejo o Gabriel brincando sozinho enquanto estou com a cara nos livros. Será que, no futuro, ele vai entender o motivo disso tudo? Ou será que vai lembrar apenas da mãe ausente?”, dizia com os olhos marejados.

Ana sempre respondia com firmeza: “Joana, sonhos têm um preço, e você está pagando o seu agora. Mas pensa bem, se desistir, como vai garantir que ele tenha um futuro melhor? Você não está sacrificando seu tempo à toa, está construindo algo maior para vocês dois.”

Joana tentava acreditar, mas o peso das incertezas era esmagador. E se eu não passar? E se nada disso valer a pena? Eram pensamentos que vinham sempre que ela estava exausta, estudando tarde da noite ou quando Gabriel pedia por mais uma história antes de dormir e ela dizia que não podia.

Certo dia, no aniversário de Gabriel, Joana decidiu deixar os livros de lado por algumas horas. Preparou um bolo simples, comprou um presente barato, mas cheio de significado, e dedicou o dia inteiro ao filho. Eles riram, brincaram, e, ao final da noite, Gabriel olhou para ela e disse: “Mamãe, eu gosto de você mesmo quando está cansada. Mas quando você sorri assim, eu fico muito feliz.”

Aquela frase ficou com Joana. Ela percebeu que Gabriel entendia mais do que parecia. Ele via o esforço da mãe e sabia, à sua maneira, que aquilo era por eles dois. Joana decidiu que precisava encontrar um equilíbrio. Não era questão de abrir mão do sonho, mas de viver o processo com mais leveza.

Dois meses depois, Joana fez a prova. Saiu sem saber o que esperar, mas com a consciência tranquila de que havia dado o melhor de si. Quando o resultado saiu, lá estava o nome dela na lista de aprovados. Era a concretização de um sonho, mas, mais do que isso, era a prova de que todo sacrifício tinha valido a pena.

No dia da posse, com Gabriel ao seu lado, ela olhou para o céu e respirou fundo. “Eu consegui”, sussurrou, enquanto apertava a mãozinha do filho.

E a vida continuou, agora com uma estabilidade que antes era apenas um desejo distante. Joana aprendeu que o preço dos sonhos é alto, mas o retorno é ainda maior. Cada momento difícil foi uma peça essencial na construção de um futuro que ela e Gabriel poderiam compartilhar com orgulho.

A mensagem que ficou é clara: os desafios são inevitáveis, mas o segredo está em não desistir. Como dizia Martin Luther King Jr., “Se você não pode voar, corra. Se não puder correr, ande. Se não puder andar, rasteje. Mas continue em frente, de qualquer jeito.” E foi isso que Joana fez. E no final, valeu cada segundo.

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